segunda-feira, 12 de maio de 2008

Graça Morais


Graça Morais – (1948)


Aos 18 anos de idade, altura em que decidiu ser pintora e se inscreveu na Escola de Belas Artes do Porto. Alguns dos seus excelentes desenhos a carvão sobre papel expostos na delegação do Instituto Camões poderiam representá-la a ela mesma, quando era criança, a ser penteada para o dia de festa na aldeia ou vestida de anjinho para as procissões.
Dentro da figuração, apresenta-nos o corpo e algumas das suas possíveis manifestações. De forma subtil oferece-nos uma ampla gama de situações, rituais a que os corpos estão expostos. Deparamo-nos com figuras sofredoras, melancólicas ou alegres. Figuras que realizam as suas tarefas quotidianas ou que são captadas em momentos congelados da sua actividade, é dedicadamente uma pintora humanista.
A pintora mostra-nos os componentes ocultos do que a vista desarmada nos oferece. Através de uma fina arquitectura ensina-nos que por trás de um gesto, de uma mão captada a meio de um trabalho existe uma vida inteira complexa que o olhar desta artista é capaz de desocultar.
Penetrar na sua obra é entrar no mito dos rituais que ainda prevalecem no Portugal contemporâneo.
A paisagem de Trás-os-Montes está bem patente, sem complacências regionalistas: sentem-se as folhas secas, o sangue-vivo, a pedra e o mundo vegetal, raiz e ninho.
O contacto com a história da pintura aconteceu fora de Portugal, designadamente em Paris, onde foi bolseira da Fundação Gulbenkian nos anos 70 (realizou a sua primeira grande exposição individual na sede desta instituição em Paris, em 1979 e outra mais recentemente.) Fora de Portugal deslumbrou-se com a cultura e a pintura dos grandes mestres.
É uma arte de efectiva modernidade. É de sonhos sem idade, que a obra de Graça Morais nos fala, reflectindo o que somos no descobrir de uma ancestralidade silenciosa a que ela dá voz, de uma terra-mãe, na nossa verdade íntima e secreta. Com ela cumpre-se, pois, em plena juventude, a função essencial da arte de sempre.

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